QUANDO O TRANSPORTE VIROU CASO DE POLÍCIA
"A voz do povo invadiu os quatro cantos do País em canções, rimas de protestos e palavras de ordem."
Não é novidade o processo do povo estar "na rua" e mobilizar através de manifestações a luta por um "Direito", mas em um país onde o próprio povo não tem memória histórica, nos parece que isso nunca ocorreu.
A "Mas Mídia" busca através de várias tentativas responder aos questionamentos que passaram a ser feitos por, políticos, cientistas sociais e vários intelectuais de plantão que infestaram a mídia televisiva na tentativa de explicarem o inesquecível "Junho de 2013".
Não há muito a ser dito, ou explicado, quando um povo que não tem dos seus teóricos representantes, o minimamente realizado através da sua representação política alguma coisa irá explodir na massa. Nos cabe o questionamento que a própria filosofia das Luzes trouxe à pauta, sobre a "Democracia Representativa", mas, que em nosso país, querem os políticos que essa democracia seja somente isso - representativa, e nunca se configure na "essência" da Democracia, que é ser "participativa". O povo têm voz e quer agora a sua vez.
Classificar os acontecimentos dentro da ótica das psicologia social e das representações sociais é muito simples ao perceber que a ausência de comando de instituições sejam elas políticas, partidárias caracterizam movimentos de organização horizontal, onde a massa se manifesta, e não há lideranças determinadas, mas há sim, uma organização e ideias pautados em reivindicações legítimas. Tão legítima que mobilizou a presidente do Brasil a aparecer em rede nacional para se explicar.
As manifestações que mobilizaram o povo não é uma novidade na história do Brasil, mas fazem parte de um conjunto de outras manifestações que tiveram dentro do território Nacional o mesmo mote deflagrador.
( Carlos Alberto : James)
Vamos percorrer algumas?
Revolta do Vintém: Quando o Bonde deu bode.
A denominação Revolta do Vintém, se caracterizou por uma série de manifestações que
ocorreram entre 28 de dezembro de 1879 e 4 de janeiro de 1880 contra o aumento
das passagens de bonde no Rio de Janeiro. O imposto era uma forma de tentar
conter o déficit da coroa e consistia na cobrança de um vintém (ou 20 réis)
sobre o valor dos bilhetes do transporte público.
"A multidão protestando na rua. A manifestação aconteceu no campo de São
Cristóvão, no Rio de Janeiro, em frente ao palácio imperial. Cerca de
cinco mil pessoas, lideradas por um militante republicano, o médico e
jornalista Lopes Trovão, reuniram-se para entregar a d. Pedro II uma
petição solicitando a revogação de uma taxa de 20 réis, um vintém, sobre
o transporte urbano, ou seja, bondes puxados a burro. O vintém era
moeda de cobre, a de menor valor da época. A polícia não permitiu que a
multidão se aproximasse do palácio. Enquanto os manifestantes se
retiravam, o imperador mandou dizer que receberia uma comissão para
negociar".
A um grito de “Fora o vintém!”, os manifestantes começaram a espancar
condutores, esfaquear mulas, virar bondes e arrancar trilhos ao longo da
rua Uruguaiana. Dois pelotões do Exército ocuparam o Largo de S.
Francisco, postando-se parte da tropa em frente à Escola Politécnica,
atual prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. O
povo, que só detestava a polícia, aplaudiu a tropa. Mas alguns mais
exaltados passaram a arrancar paralelepípedos e atirá-los contra os
soldados. Por infelicidade, um deles atingiu justo o comandante da
tropa, tenente-coronel Antônio Enéias Gustavo Galvão, primo de Deodoro
da Fonseca, militar que uma década depois se tornaria o primeiro
presidente do Brasil. O oficial descontrolou-se e ordenou fogo contra a
multidão.
As estatísticas de mortos e feridos são imprecisas. Falou-se em 15 a 20
feridos e em três a dez mortos.Entre os últimos, estavam estrangeiros e
o flautista Loló, condutor da Cia. de São Cristóvão, atingido por uma
pedrada. A multidão dispersou-se e, salvo pequenos distúrbios nos três
dias seguintes, estava findo o motim do vintém. A cobrança da taxa
passou a ser quase aleatória. As próprias companhias de bondes pediam ao
governo que a revogasse. Desmoralizado, o ministério caiu a 28 de
março. O novo ministério revogou o desastrado tributo.
(fonte:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/a-guerra-do-vintem)
A GREVE DA MEIA PASSAGEM
A Greve da Meia Passagem foi uma greve estudantil que
ocorreu em Setembro de 1979, em São Luís (Maranhão) visando a adoção de meia
passagem para estudantes. O início da greve ocorreu quando o então
prefeito da cidade, Mauro Fecury, apresentou a proposta de um terceiro
aumento consecutivo da passagem em apenas um ano. Na ocasião, estudantes
da Universidade Federal do Maranhão entraram em greve e foram
reprimidos ao sair em passeata para o centro da cidade. Assim a aglutinação quase que instantânea de parte da população local, insatisfeita diante dos aumentos abusivos e das péssimas condições do transporte público oferecido na capital, configurou uma oportunidade para os interesses dos envolvidos no movimento estudantil.
A greve da meia-passagem, desenvolveu-se em um contexto peculiar, haja vista a estruturação política e jurídica vigente no país à época (ditadura militar) não dar margem a manifestações de grupos sociais insatisfeitos com o estado de coisas. No cenário local, o governo estadual aplicava com veemência esta mesma orientação, de modo que as poucas ocasiões em que pôde ser percebida alguma mobilização, estas foram eminentemente rechaçadas pelo governo local. O mecanismo utilizado foi a ação repressora operada pelo Estado, a qual, embora ligeiramente mascarada, dadas as probabilidades de criação de uma imagem negativa frente à população local e nacional, realizou inúmeras investidas através de proibições de manifestações públicas como passeatas e reuniões, do controle indireto das poucas organizações que existiam através da exigência pareceres que deveriam ser entregues as autoridades responsáveis, dentre outras formas. E ainda justificando os “indesejados resultados” (agressões policiais aos populares) como consequência das transgressões às normas vigentes no Estado.
Conforme relatos contidos nos jornais locais que apontavam uma imediata adesão de parte da popular à mobilização, como pode ser observado no relato de um morador do bairro Sá Viana:“Os estudantes são autênticos quando querem protestar contra algum absurdo, por isso agente que não teve condição de estudar deve concordar com eles que são mais esclarecidos”.
(O Imparcial, 15/09/1979, p. 5)
(Fonte: http://www.seminariosociologiapolitica.ufpr.br/anais/GT03/Antonio%20Carlos%20Lima%20Gomes%20e%20Arleth%20Santos%20Borges.pdf )
Para ampliar o conhecimento sobre o assunto veja o curta produzido sobre o tema no seguinte link
http://www.youtube.com/watch?v=jqlbAjDC554
Vale lembrar que é um filme de valor essencialmente histórico. O vídeo é uma cópia do filme produzido em Super-8, pela Virilha Filmes, com fotografia de Luis Carlos Cintra, Raimundo Nonato Medeiros, Euclides Moreira Neto e Mazeh (Maria José Lopes Leite), trilha sonora de Joaquim Henrique Martins, atores Raimundo Nonato Medeiros, Murilo Santos e Garces. As imagens são da greve da meia-passagem, de 1979, em Sao Luis-MA. Na decada de 80, o filme foi copiado em video Umatic.
OBS: Atencão: após a abertura, por uns 3min, não há imagens, só áudio. Não é defeito. O original está assim, simulando um interrogatório da época. Duração: 30min e 5s.«
REVOLTA DO BUZU: A BAHIA NÃO É SÓ AXÉ
Revolta popular que ocorreu em Salvador (Bahia), em 2003. Na ocasião,
milhares de jovens, estudantes e trabalhadores fecharam as vias
públicas, protestando contra o aumento das tarifas em transportes
coletivos na cidade. Durante 10 dias, a cidade ficou paralisada. As
mobilizações tiveram fim quando entidades estudantis, como a UNE e UJS,
colocaram-se como líderes das mobilizações e tentaram uma negociação na
prefeitura.
A Revolta do Buzu teve momentos de tensão e confronto com a PM, mas sem a
intensidade vista recentemente nas ruas, onde sobraram bombas de efeito
moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha e detenções.
Em 2003, a tática dos líderes para evitar confrontos com a polícia era divulgar uma rota e seguir outra. “A polícia não sabia para onde os manifestantes estavam indo. Quando se pensava em barrar as manifestações, o grupo já estava em outro caminho”, afirma o professor Dêvid Gonçalves, um dos manifestantes da revolta de dez anos atrás.
Em 2003, a tática dos líderes para evitar confrontos com a polícia era divulgar uma rota e seguir outra. “A polícia não sabia para onde os manifestantes estavam indo. Quando se pensava em barrar as manifestações, o grupo já estava em outro caminho”, afirma o professor Dêvid Gonçalves, um dos manifestantes da revolta de dez anos atrás.
REVOLTAS DA CATRACA
"Trata-se do conjunto de manifestações populares ocorridas entre 28 de junho e 8 de julho de 2004 , em diversos pontos da cidade, que se convencionou chamar de a Revolta da Catraca."
Há exatos 14 anos a câmara de vereadores de Florianópolis, ainda na primeira gestão da prefeita Ângela Amin (PP), aprovava a lei que concedia, sem licitação, a exploração do transporte coletivo da cidade por um período de 10 anos às empresas Transol, Canasvieiras, Insular, Estrela e Emflotur. Havia resistência da sociedade civil em relação à lei, o que transformou seu trâmite num processo conturbado. No dia da votação houve mobilização para impedir que a lei fosse aprovada. Foi necessário que a polícia cercasse o antigo prédio da câmara para possibilitar a entrada de alguns vereadores.
Nossa história, no entanto, começa um pouco antes, mais precisamente em
1996, quando a prefeita apresentou o projeto do Sistema Integrado de
Transportes (SIT). Empreendimento cuja implantação teve papel definitivo
na organização da mobilidade urbana da cidade, que por sua vez causou
indignação nos usuários e acabou fomentando as revoltas e protestos que
aconteceriam quase uma década depois.
PRIMEIRA REVOLTA DA CATRACA
A Revolta da Catraca foi uma revolta popular contra o aumento de 15,6%
da tarifa autorizado pelo Conselho Municipal de Transportes em 22 de
junho de 2004. Foi marcada por grandes manifestações e teve como
imagem marcante o fechamento, por parte dos milhares de manifestantes,
das pontes que ligam a ilha à parte continental da cidade,
inviabilizando, no horário de maior movimento, o trânsito na principal
via de acesso para os outro bairros e municípios da grande
Florianópolis. Além disso, outras iniciativas também aconteciam. Ações
diretas como pular catraca, abrir as portas de trás do ônibus para que
todos que estivessem no ponto pudessem entrar sem pagar, os jograis
realizados nas assembléias (sem a habitual maquinaria política de
sindicatos e partidos de esquerda saudável) e até mesmo as próprias
assembléias que se disseminaram durante as revoltas foram experimentados
.Após mais de dez dias de mobilização intensa, triunfa enfim o
movimento contra o aumento das tarifas.
SEGUNDA REVOLTA DA CATRACA
Em 2005, um aumento similar desencadearia outro conjunto de
manifestações, mais radicalizadas de ambos os lados (sociedade civil e
governo), caracterizando o transporte como uma causa política com
tremenda visibilidade e poder de mobilização, gravando na história a segunda Revolta da Catraca.
A revolta de 2005 contra o aumento da
tarifa foi duramente reprimida pela polícia militar, havendo uma série
de violações de direitos humanos. Obteve, por isso, resposta dura dos
manifestantes, que apedrejaram a sede da COTISA e bancos pelo centro da
cidade, além de terem ateado fogo à Câmara dos Vereadores. A opinião
pública também se viu dividida entre os que criticavam os “baderneiros” e
os que enxergavam legitimidade nos atos dos que protestavam.
Embora tenha sido bastante diferente da
do ano anterior, a segunda Revolta da Catraca reuniu também muita gente e
muitos segmentos da população, e também conseguiu que a tarifa voltasse
a seu preço anterior. Desde então a tarifa tem sido aumentada no final
do ano, no período de festas ou férias, quando historicamente a
mobilização popular é mais frágil.
VEJA VÍDEO NO LINK:
http://www.youtube.com/watch?v=mKH5t2qmlxw
FONTES: TEXTOS: ( http://revoltadacatraca.wordpress.com/about/)
IMAGENS ( http://tarifazero.org/mpl/)
IMAGENS ( http://tarifazero.org/mpl/)
A PRIMAVERA BRASILEIRA
A recente mobilização, por enquanto chamada de Revolta dos Vinte Centavos,
iniciou com a declaração do aumento em R$ 0,20 no preço da passagem de
ônibus na cidade de São Paulo e ficou marcada pela truculência policial
nos primeiros dias de manifestações.
"PROTESTOS POLÍTICOS COMEÇARAM EM SÃO PAULO NO INÍCIO DE JUNHO"
Um conjunto de manifestações tiveram seu início na cidade de São Paulo tendo como fator deflagrador o aumento das tarifas dos ônibus circulares em 0,20 centavos de real.
Os protestos pacíficos articulados sob a bandeira do Movimento Passe livre, criado em uma das edições do Fórum Social Mundial, pleiteavam a revogação do aumento e a tarifa zero.
As manifestações que eram exclusivamente contra o aumento da tarifa do transporte público, estenderam-se a outras cidades no Brasil, aproximadamente umas 300 cidades e mobilizaram mais de um milhão de pessoas nas ruas e nas redes sociais.
O inicio das manifestações foram violentamente reprimidos pelo aparelho de poder do Estado -a polícia,o que mobilizou o crescimento das manifestações e a adesão de mais pessoas. O caráter reivindicatório abriu seu leque e as pautas passaram a se protestos pela paz, pela justiça, cidadania, pela liberdade de expressão e sócio-política, bem como contra a CORRUPÇÃO e a falta de transparência do Legislativo brasileiro. O movimento também atingiu a organização e os gastos contra os grandes eventos internacionais assumidos pelo Brasil como a Copa do Mundo e as Olimpíadas a serem realizados em 2014 e 2016 respectivamente.
O ineditismo dos acontecimentos no Brasil fica por conta da ausência de um comando verticalizado representado anteriormente pelos movimentos de esquerda e seus partidos além das pautas de partidos e grupos filiados aos mesmos. Mas,os acontecimentos expressam um movimento de repúdio político partidário pela juventude que através das redes sociais formaram a verdadeira COMUNA brasileira (aqui uma leve referência à Comuna de Paris em 1870) inaugurado a Primavera das Mentes e dos dedos da juventude brasileira, que pode via redes sociais mobilizar e mobilizar-se para que "O GIGANTE" que levou mais de 500 anos para acordar, não volte a adormecer.
(CARLOS ALBERTO: JAMES